A nova normalidade a que teremos de nos habituar inclui, de acordo com todos os peritos, uma mudança muito importante no que respeita à privacidade de alguns dados pessoais. A necessidade de um controlo rigoroso por parte das autoridades sanitárias suscitou uma nova preocupação ligada à tecnologia da geolocalização e ao controlo em tempo real dos nossos movimentos.
O sector dos seguros terá de assistir à evolução desta situação e, como muitos sectores, terá também de se adaptar.
A nova normalidade, qual o caminho?
Provavelmente começa com uma certa vantagem, uma vez que alguns produtos, tanto das próprias empresas como de insurtech inovadoras, têm vindo a trabalhar há algum tempo na incorporação de mecanismos de geolocalização. Mecanismos que ajudam na prestação de serviços relacionados com o produto contratado.
Em artigos anteriores no blogue falavam sobre o carro ligado e como o seguro automóvel estava a ser reinventado em benefício tanto dos segurados como das empresas. Uma inovação tecnológica que significava uma nova possibilidade de incorporar características ao produto. E é um caso muito claro de geolocalização, tanto do carro como, indiretamente, do condutor segurado. Um caso em que é provável que as preocupações com a privacidade sejam menores, ou pelo menos salváveis.
Tudo isto, acrescentando que, sendo um exemplo aplicável, é necessário salientar que a atual situação de emergência sanitária fez com que os mecanismos de controlo passassem para as mãos, em alguns casos, de organismos estatais cujo cumprimento da legislação de proteção de dados não é, de momento, nada claro.
De facto, o cumprimento dos regulamentos a este respeito não é claro em nenhuma área. Nem no público nem no privado. Mas, do lado do público, a responsabilidade que um Estado supostamente deve suportar atende a outras considerações. Em teoria…
Assim, com todas as tecnologias que utilizam Big Data e que aplicam a Inteligência Artificial nos seus processos, é provável que a perceção de controlo da privacidade individual, cada vez mais difícil de proteger, aumente.
Mas ao nível da indústria, a perceção de perda de privacidade, ou controlo sobre a geolocalização do indivíduo é por vezes compensada pelos benefícios reais que o produto permite. E aqui, o segurado não tem uma opinião maioritária, mas sim uma opinião prática.
Alguns exemplos
Um exemplo diretamente relacionado com a situação atual e com o sector pode ser visto nos seguros de saúde. Atualmente os novos produtos incorporam a monitorização, através da biometria, do nosso próprio corpo. Um acompanhamento que procura cuidados mais personalizados, uma prevenção mais precisa e, consequentemente, uma apólice mais adequada às circunstâncias de cada segurado.
É difícil pensar que um tomador de seguro com um produto tão personalizado não esteja disposto a ser geolocalizado. Ou monitorizado. Existe uma perda de privacidade. Existe a geolocalização. Mas existem benefícios tangíveis para a saúde.
Contudo, a situação atual é suscetível de conduzir a uma mudança no quadro regulamentar para a proteção de dados. Podem surgir necessidades de interesse geral e, sobretudo, estreitamente relacionadas com a pandemia de Covid-19. E também é provável, embora demasiado cedo para dizer, que iremos entrar numa nova situação (alguns chamam-lhe a “nova normalidade”) onde iremos perder o controlo, e alguma privacidade no interesse geral.
Conclusão: Os mediadores de seguros devem estar atentos ao futuro imediato. O cliente será o primeiro a ter dúvidas a este respeito e será necessário ter a máxima informação possível para ser totalmente transparente em todos os assuntos em que a privacidade dos dados sofre algum tipo de modificação. É mais do que provável que a nova normalidade tenha algumas características no seu ADN que há alguns meses atrás nos pareciam ficção científica.